05/06
2018
Amphisbaena kiriri, essa foi a nova espécie de anfisbena, ou cobra-de-duas-cabeças, descoberta na Caatinga. O nome científico é uma homenagem a uma etnia indígena, os índios Kiriri (também conhecidos como Cariri ou ainda Kariri), designação para a principal família de línguas indígenas do sertão do Nordeste brasileiro, onde antigamente estes povos viviam em grandes comunidades nas Caatingas do interior do estado baiano, e atualmente contam com poucos indivíduos. A descoberta foi realizada por um grupo de herpetólogos, profissionais especialistas que estudam anfíbios e répteis.
Segundo o Doutor Leonardo Ribeiro, professor na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e coordenador do estudo: “As anfisbenas são répteis que juntamente com os lagartos e as serpentes formam um grupo denominado Squamata, e compartilham um ancestral em comum. Apesar de parentes próximos, as anfisbenas não são serpentes. Elas vivem enterradas no solo, por isso têm os olhos bem pequenos, quase vestigiais e não enxergam muito bem”. Fazem parte da equipe Henrique Costa, doutorando em Zoologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Samuel Gomides, da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).
“Pelo fato da cabeça ser bem parecida com a ponta da cauda, muitas pessoas ficam confusas e acham que esse animal possui duas cabeças, o que não é verdade”, afirmou Ribeiro. É importante ressaltar que as anfisbenas não são venenosas, e não oferecem nenhum tipo de perigo. A Amphisbaena kiriri foi descoberta enquanto Ribeiro estudava espécimes, que fazem parte da Coleção Herpetológica da Univasf, advindos de um estudo de monitoramento ambiental para a instalação de usinas eólicas no interior da Bahia, na região do município de Campo Formoso. O pesquisador notou que esses animais não possuíam características de alguma espécie já descrita, portanto, se tratava de uma nova espécie para o mundo científico.
“Kiriri” significa silencioso ou taciturno na língua Tupi original dos nativos do litoral brasileiro, que também remete aos hábitos desse animal, pois ele vive escondido sob os solos, e não emite nenhuma vocalização, o que dificulta sua observação no seu hábitat natural. Essa descoberta lembra a importância dos estudos de impacto e de monitoramento ambiental em empreendimentos que possam modificar a natureza. Em um momento onde se discute um relaxamento das leis ambientais no país (caso da PL 3729/04), este achado indica a necessidade de mais investimentos para inventariar a biodiversidade da Caatinga e a necessidade de entender como essas obras podem afetar as espécies.
A espécie recém-descoberta, por exemplo, só é conhecida no município de Campo Formoso, em áreas que foram impactadas pelas obras da construção da usina eólica. A descrição da Amphisbaena kiriri eleva para 23 a riqueza de espécies de anfisbenas do bioma Caatinga. Serão necessários estudos futuros para avaliar se a espécie é abundante ou rara na região. Em abril de 2018, a área onde a nova espécie foi descoberta se tornou oficialmente parte da Área de Proteção Ambiental Boqueirão da Onça, um tipo de unidade de conservação que permite ocupação humana e outras atividades. “Mais importante ainda é o fato do local ficar a menos de um quilômetro do também recém-criado Parque Nacional do Boqueirão da Onça. Apenas com novos trabalhos na região será possível afirmar se o réptil também habita o parque”, concluiu Ribeiro.
A publicação saiu no último dia 10 de maio de 2018, na revista Journal of Herpetology, uma publicação da maior sociedade herpetológica internacional, com sede nos Estados Unidos: Society for the Study of Amphibians and Reptiles - SSAR [Sociedade para o Estudo de Anfíbios e Répteis]. O trabalho pode ser acessado nos seguintes links:
http://www.bioone.org/doi/10.1670/17-028
O professor doutor Leonardo Ribeiro é responsável pela Coleção Científica Herpetológica do Museu de Fauna da Caatinga do Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna Caatinga), para onde o holótipo, que foi usado para descrever a espécie da anfisbena descoberta, foi encaminhado.
Foto - Leonardo Ribeiro
Fonte: Jaquelyne Costa/ Ascom Cemafauna - com informações do grupo responsável pela pesquisa.Nossa atuação
O Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga, sediado em Petrolina-PE, atua em todo o semiárido nordestino do Brasil, abrangendo uma área de 982.563,3 km². Além de contemplar os diversos municípios impactados pelo Projeto de Integração do São Francisco (PISF) nos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, o Centro desempenha um papel fundamental na reabilitação de animais silvestres. Essas ações de conservação ex situ são realizadas em sua unidade do CETAS, onde animais provenientes das atividades de supressão do PISF e das operações de combate ao tráfico de fauna, conduzidas por órgãos municipais, estaduais e federais, são acolhidos e cuidados.
São 12 anos de monitoramento. Este é um monitoramento de fauna, de longa duração, realizado na Caatinga Sensu Stricto por nossos analistas ambientais e pesquisadores.
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