03/10
2018
O Dia da Abelha, nacionalmente celebrado hoje, 3 de Outubro, deve lembrar da importância destes animais simpáticos e fundamentais para a sobrevivência humana. No resto do mundo foi estabelecido o 20 de Maio como Dia das Abelhas por ser a data do nascimento de Anton Janša, esloveno nascido no século XVIII que foi pioneiro na criação e uso de técnicas modernas de apicultura.
As abelhas são responsáveis pela polinização de mais de 70 das 100 espécies de vegetais que fornecem 90% dos alimentos para um planeta habitado por sete bilhões de pessoas, segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), de Junho de 2014.
Nos últimos anos, estudos têm alertado sobre o desaparecimento das abelhas. Em um mundo sem abelhas, o homem não ficará apenas sem o mel e as flores. Ficará sem alimentos. A lista de frutas, vegetais e sementes que dependem das abelhas é longa: maracujá, uva, limão, maçã, melão, cenoura, amêndoas, castanha-do-pará, entre outras.
Produtores de abelhas em todo o mundo, em especial nos Estados Unidos, relatam perdas entre 30 e 50% em suas populações de abelhas em colmeias. Em algumas regiões da China, elas já não existem mais. No Brasil, segundo o professor Osmar Malaspina, da Universidade Estadual Paulista (Unesp, Rio Claro, SP), responsável pela coordenação de um grupo de pesquisa sobre o comportamento das abelhas, 30 mil colônias de abelhas foram perdidas só no estado de São Paulo de 2008 a 2017. Em Santa Catarina, foram 100 mil apenas em 2011. Estimativas apontam para perdas anuais de 40% de colmeias no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais.
Mas quais são as razões para o desaparecimento delas? A mais reconhecida é o amplo uso de inseticidas “neonicotinoides”, defensivos agrícolas utilizados em todo o mundo, que atingem o sistemas nervoso e digestivo dos insetos, provocando desarranjos em seus sistemas de navegação. As abelhas morrem intoxicadas ou perdem o caminho de volta, deixando a colmeia vazia. Em casos mais graves, elas não conseguem se alimentar e morrem de fome.
Além de pesticidas, outros fatores, como eventos extremos causados por mudanças climáticas, o desmatamento seguido pela ocupação do solo por extensas monoculturas (milho e trigo) e técnicas para aumentar a produção de mel podem ser responsáveis pelo distúrbio do colapso de colônias (fenômeno conhecido como CCD em inglês).
Diante deste cenário dramático, o Parlamento Europeu baniu alguns desses inseticidas. Chama nossa atenção o fato das produtoras dos neonicotinoides serem as mesmas empresas que dominam hoje o mercado de produção de sementes transgênicas.
Porém, um cálculo essencial precisa ser levado em conta: cientistas estimam que no ano de 2007, por exemplo, o valor dos serviços ecossistêmicos de polinização em todo o mundo era calculado em US$ 212 bilhões. Além disso, é clara que a relação entre a diminuição das abelhas e a redução da produção de alimentos impactará radicalmente na lei da oferta e da procura, logo no aumento do preço dos alimentos.
No Brasil, está em andamento desde 23 de setembro de 2014, a Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). Um grupo de 75 pesquisadores de diversos países-membros do IPBES está fazendo uma avaliação global sobre polinizadores, polinização e produção de alimentos para identificar estudos necessários na área e, com isso, auxiliar os tomadores de decisão dos países a formular políticas públicas para a preservação da polinização e de outros serviços ecossistêmicos prestados por polinizadores.
Para quem é consumidor, ficam as dicas: mantenha-se informado, participe ativamente em fóruns de discussão sobre agrotóxicos e seus impactos sobre os polinizadores, se posicione quanto aos projetos de lei que vão mexer com nossa saúde e nosso bolso – e nunca se esqueça que somos totalmente dependentes do meio ambiente. No Vale do São Francisco o movimento já começou: em áreas de Caatinga, a pesquisadora doutora Aline Andrade, vinculada ao Cemafauna da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) em Petrolina-PE, em pesquisa apoiada pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo), tem demonstrado que abelhas da tribo Euglossini ou abelhas das orquídeas, são capazes de dispersar até 30 km entre fragmentos florestais, demonstrando que a manutenção dos corredores ecológicos (verdes) são fundamentais para conservação e manutenção da variabilidade genética das espécies vegetais distribuídas de forma dispersar nesse domínio morfoclimático.
O Cemafauna atuando pela conservação das abelhas da Caatinga
O Cemafauna vem realizando resgate de abelhas em áreas do Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional. Em poucos meses de trabalho, já foram resgatados 144 ninhos de 12 espécies endêmicas. Entre elas, Melipona mandacaia (mandaçaia), Melipona aesilvai (munduri) e Frieseomelitta doerdeleini (abelha-branca). Os ninhos estão sendo mantidos nas suas áreas de distribuição, monitorados periodicamente nas áreas de soltura dentro das vilas produtivas rurais.
Quer saber mais?
Nos acompanhe no site do Cemafauna/Univasf.
Assista ao filme: “Mais que Mel”, de Markus Imhoof
Leia:: “Polinizadores no Brasil: contribuição e perspectivas para a biodiversidade, uso sustentável, conservação e serviços ambientais”, diversos autores, da Fapesp.
Fontes: https://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?41662
https://nacoesunidas.org/onu-declara-20-de-maio-dia-mundial-das-abelhas/
Fonte: Aline Andrade - Laboratório de Entomologia - Cemafauna
Cláudia Martins - Instituto Pró-carnívoros
Jaquelyne Costa - Ascom Cemafauna
(Arte sobre foto de Aline Andrade)
Nossa atuação
O Centro de Conservação e Manejo de Fauna da Caatinga, sediado em Petrolina-PE, atua em todo o semiárido nordestino do Brasil, abrangendo uma área de 982.563,3 km². Além de contemplar os diversos municípios impactados pelo Projeto de Integração do São Francisco (PISF) nos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, o Centro desempenha um papel fundamental na reabilitação de animais silvestres. Essas ações de conservação ex situ são realizadas em sua unidade do CETAS, onde animais provenientes das atividades de supressão do PISF e das operações de combate ao tráfico de fauna, conduzidas por órgãos municipais, estaduais e federais, são acolhidos e cuidados.
São 12 anos de monitoramento. Este é um monitoramento de fauna, de longa duração, realizado na Caatinga Sensu Stricto por nossos analistas ambientais e pesquisadores.
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Campus Ciências Agrárias, BR 407, Km 12, lote 543, Projeto de Irrigação Nilo Coelho - S/N C1 CEP. 56.300-000, Petrolina - Pernambuco - Brasil - www.cemafauna.univasf.edu.br
Fundação Universidade Federal do Vale do São Franscisco